segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

                                                 Um sábio atacado por um cachorro
                                                                                                                                       (31 jan 2014)
Um homem anônimo caminhava naquele parque. Mais de oitenta anos de vida trilhavam naquele instante, pelas alamedas e vielas do parque. Uma sabedoria acumulada ao longo do caminho. Um saber que naquele instante desfrutava, além da aspiração do ar oxigenado saudavelmente, das reminiscências vivenciadas na manhã.
Havia passado pela mesa, que sob um caramanchão, que transmite firmeza, robustez e convite à escrita. Ali encontrava um grande pesquisador e escritor fértil, benfeitor do saber inextinguível.
Eis, imerso em reflexões sobre as trilhas da vida, sente-se atacado em seu calcanhar. Um cachorro anônimo, sem beira nem eira, resolve morder o calcanhar daquele homem anônimo, que caminhava com rito e memórias. Três mordidas. Em que pese a defesa do homem. Tenta escapar. Chuta; afasta e ataca. E se foi o cão anônimo violento e agressor. Não tinha dono, vagueava pelas vielas e alamedas do parque.
No caminho, a sabedoria é atacada por agressores. Não importa os anos acumuladores de saber. Não importa o que move o trilhar nas alamedas e vielas. A violência pode surgir, com gratuidade e inesperadamente.
O homem sábio se defende do ataque, mordido, insiste na defesa. Deixa de se atemorizar com a violência canina. Enfrenta o cão. Como enfrentaria a tentação diabólica. Como se defenderia das mordidas satânicas. Do cão violento escondido no caminho, num encontro externo ou embate interno. O cão satânico e diabólico surgiu na verde alameda do parque ou emergiu do interior?
O homem sábio seguiu o seu caminho, mesmo mordido. Restam das dez, três doses da vacina antirrábica.
E a memória das alamedas e vielas verdejantes permanece sã.
PS: A propósito do cão que atacou e mordeu o Celani, no Parque das Águas em Caxambú. Janeiro de 2014.